Não há pão em profusão. Mas há violência, há massacre, há medo.

Não há justiça além daquela que não chega, ou chega tarde, ou é pouca ou é ruim.

No tempo de agora, de pães de cascas cinzentas e sem sabor, de carência do que é necessário, a busca é pelo povo – e do povo – que preparará o seu próprio pão, “bastante, saudável, diário”.

A palavra vem do poeta alemão.

 

 

A justiça é o pão do povo.

Às vezes bastante, às vezes pouca,

Às vezes de gosto bom, às vezes de gosto ruim.

Quando o pão é pouco, há fome.

Quando o pão é ruim, há descontentamento.

 

Fora com a justiça ruim!

A justiça sem sabor, cuja casca é cinzenta!

A justiça de ontem, que chega tarde demais!

Quando o pão é bom e bastante,

O resto da refeição pode ser perdoado.

Não pode haver logo tudo em abundância.

Alimentado o pão da justiça,

Pode ser feito o trabalho

De que resulta a abundância.

 

Como é necessário o pão diário,

É necessária a justiça diária.

Sim, mesmo várias vezes ao dia.

 

De manhã, à noite, no trabalho, no prazer,

No trabalho que é prazer.

Nos tempos duros e felizes,

O povo necessita do pão diário

Da justiça, bastante e saudável.

 

Sendo o pão da justiça tão importante,

Quem, amigos, deve prepará-lo?

 

Quem prepara o outro pão?

 

Assim como o outro pão

O pão da justiça

Deve ser preparado pelo povo.

 

Bastante, saudável, diário.

 

 

Bertolt Brecht

O pão do povo (tradução de Paulo César de Souza)