Congresso Nacional: manifestação promovida pelo governo ameaça estabilidade da relação entre poderes (foto: reprodução)

 

O golpe que vem desde antes de 2016, com seus efeitos continuados e perversos. O golpe que colocou o país numa rota de destruição. O golpe contra os pobres, as minorias, a natureza, a educação e a cultura. O golpe de Bolsonaro e seus milicianos, e seus amigos, e seus parentes. O golpe que se quer perpetrar dentro do golpe que não termina nunca. O golpe dos fanáticos, dos ensandecidos, dos boçais. O golpe tolerado pelas instituições.

Até onde irá a permissividade com o capitão e seus devaneios? Quantos crimes, quantos cadáveres serão necessários para evitar as ameaças constantes, as explosões de truculência que isolaram o povo brasileiro do resto do mundo? Um desfile de armas em frente aos prédios do Congresso Nacional e da sede do Judiciário, tanques pilotados por homens que vestem fardas, eis o legado do ódio que se espalhou, da feiura dominante.

Os excessos ultrapassaram todos os limites. Dizem os jornais do dia: “na semana em que está prevista a votação do voto impresso na Câmara, o Ministério da Defesa realizará […] um desfile de blindados que passará em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília” (FSP – 9/8/21). A exibição esdrúxula tem data marcada: 10 de agosto. Mas há mecanismos institucionais capazes de barrá-la, de afogar as intenções absolutistas do monstro que o desastre eleitoral de 2018 pariu.

Resta saber o que farão as autoridades que habitam o Judiciário e o Legislativo. Até agora, munidas de códigos solenes e discursos rocambolescos, elas se limitaram a emitir uma sucessão de notas que o tempo tratou de jogar no esquecimento. Para a sobrevivência do pouco que sobrou da frágil democracia, é preciso outro tipo de resposta. É preciso, ao menos, que se cumpra a Constituição, cujos fundamentos não aceitam a permanência de mandatários empenhados em promover o assassinato das regras do jogo.

 

Mário Montanha Teixeira Filho é consultor jurídico aposentado.