Num estudo muito antigo sobre a obra poética de Florbela Espanca [*], o escritor português José Régio confessou, com um certo pudor, que só conheceu a sua conterrânea literária quando ela se tornou familiar ao público leitor. “Ao tê-la conhecido mais cedo, creio que me não teria passado despercebido o que logo se impõe a quem leia os versos de Florbela: a sua poesia é um dos nossos mais flagrantes exemplos de poesia viva”, disse.

Caso humano – E prosseguiu: “A obra de Florbela é a expressão poética de um caso humano. Decerto para infelicidade da sua vida terrena, mas glória do seu nome e glória da poesia portuguesa, Florbela viveu a fundo aqueles estados quer de depressão, quer de exaltação, quer de concentração em si mesma, quer de despersonalização por tudo, que na sua poesia atingem tão vibrante expressão”.

Inquietação e insatisfação – Florbela Espanca é autora de versos impossíveis de serem lidos “sem reconhecermos uma sua inquietação, uma sua insatisfação, que se vão manifestando como irremediáveis”.

8 de Março – Neste 8 de Março, o registro da poesia de Florbela Espanca é feito pela Aconjur-PR para destacar o Dia Internacional da Mulher, na sequência de um histórico que vem sendo reproduzido pela entidade de classe desde 2017 (acesse links no final desta matéria).

 

[*] RÉGIO, José. Florbela. In: ESPANCA, Florbela. Sonetos completos. Coimbra: Livraria Gonçalves, 1950.

 

Mujer con una flor (Pablo Picasso)

 

Meu orgulho

 

Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera
Não me lembrar! Em tardes dolorosas
Eu lembro-me que fui a primavera
Que em muros velhos fez nascer as rosas!

As minhas mãos outrora carinhosas
Pairavam como pombas… Quem soubera
Porque tudo passou e foi quimera,
E porque os muros velhos não dão rosas!

São sempre os que eu recordo que me esquecem…
Mas digo para mim ‘não me merecem’…
E já não fico tão abandonada!

Sinto que valho mais, mais pobrezinha:
Que também é orgulho ser sozinha,
E também é nobreza não ter nada!

 

Florbela Espanca (1894-1930)

 

Sobre o 8 de Março, acesse: