No domingo, 21 de maio, mais uma vez me senti profundamente injuriado e indignado com os gritos e gestos racistas de parte da torcida do Valencia contra o grande atleta Vinicius Júnior, que brilhava em campo como um dos melhores do mundo.

– Mono, macaco , filho da p.

– Animal

– Me cgo em teus mortos .

Ofensas contra Vini por ser negro e de origem humilde. Como se fosse um crime. Todas proferidas com berros odientos, gestos e referências escravistas. Que vergonha para os espanhóis, que já carregam um passado vergonhoso de destruição e genocidio no México, Peru e em tantos outros países.

É a história se repetindo recorrentemente. É o racismo, e o que há de pior na velha Europa colonialista e pelo mundo afora. Me pareceu ver redivivo e liderando os insultos na torcida Tomás de Torquemada, o grande inquisidor espanhol, com seu capuz e tocha aos gritos, exigindo as chamas da fogueira ou o linchamento para Vinicius Júnior. O ditador Francisco Franco poderia também estar na tribuna de desonra, ao lado de seu braço direito do terror, o general Millán-Astray, o mutilado maldito.

Certamente também devem estar indignados os espanhóis democratas e progressistas que têm em sua história de luzes Cervantes, Federico Garcia Lorca, Miguel de Unamuno, Dolores Ybarruri, La Passionaria e tantos que influenciaram a humanidade com suas suas obras literárias e seus ideais.

Se lá na Espanha a entidade La Liga hoje enxovalha o esporte com ódio e preconceito, em nosso continente temos a competição “ Libertadores da América”, que simbolicamente homenageia os que pela independência lutaram contra o imperialismo espanhol: Bolívar, San Martin , Tupac Amaru. E, ainda assim, vez por outra surgem iguais manifestações.

O jogo deveria ter sido interrompido e essa parte dos torcedores do Valencia identificada, processada e retirada do estádio, e o clube deveria ser severamente punido com perda de mando de jogos, multa e outras sanções. Ou encerrado com perda de pontos para o time dos ofensores.

Pior, Vinicius sofreu um violento mata-leão traiçoeiro, reagiu com um safanão, levou cartão vermelho, foi expulso e o agressor ficou impune. De digno ficou a declaração indignada do técnico Ancelotti, que repudiou fortemente o racismo e denunciou a complacência da Liga Espanhola com o preconceito e o ódio.

– “ No va pasar nada “

Ou seja, vão passar pano.

Todos temos que reagir contra o racismo que nos enoja onde ele se manifestar. O futebol já nos deu muitas alegrias, até equivocadas, mas é preciso que o mal, o ódio, o racismo, as negociatas e as fraudes desapareçam dos gramados. Não dá mais. Saudades do jogador doutor Sócrates e de seus protestos contra a canalhice no futebol. Canalhas, Canalhas …

 

José Maria Correia é colunista do blog do Zé Beto.