Sebastião Salgado, o maior fotógrafo brasileiro e um dos maiores da história, morreu no dia 23 de maio (sexta-feira), aos 81 anos, em Paris. Ele deixa Lélia Wanick Salgado, sua mulher desde 1967, e os filhos Rodrigo e Juliano. Salgado foi vítima de uma leucemia grave, provocada por uma forma particular de malária, contraída na Indonésia, em 2010, segundo nota oficial da família. No sábado (24/5), ele participaria do vernissage de vitrais desenhados pelo filho Rodrigo para uma igreja na cidade de Reims. Na véspera, o fotógrafo havia cancelado sua presença em um encontro para jornalistas também em Reims, alegando problemas de saúde. Reportagem da Folha de S. Paulo esteve com Salgado há um mês, para entrevistá-lo sobre os vitrais de Rodrigo, que tem síndrome de Down. Na ocasião, ele disse que vinha fazendo um novo tratamento, que lhe dera mais energia. “Minhas fotos talvez sobrevivam cem anos, mas os vitrais dele vão ficar por milhares de anos”, disse Salgado na ocasião.

Atualmente está em cartaz uma retrospectiva da obra de Salgado em Deauville, cidade do litoral norte da França. Na inauguração da exposição, em 1º de março, Salgado emocionou-se com a homenagem. “Algumas vezes as pessoas me dizem que sou um artista, eu digo que não, que sou um fotógrafo”, afirmou. Sebastião Ribeiro Salgado Júnior nasceu em 1944 na pequena Aimorés, no interior de Minas Gerais. Ele começou a estudar direito, mas logo mudou para economia, área na qual obteve um mestrado pela Universidade de São Paulo. Ativista de esquerda, mudou-se para a França em 1969, fugindo da ditadura no Brasil.

Funcionário da Organização Internacional do Café, o brasileiro viajava com frequência para a África, onde começou a fotografar depois de experimentar uma câmera que sua mulher havia comprado em 1970. “Percebi que instantâneos me davam mais prazer do que relatórios financeiros”, confessou. Um humanista, Salgado dedicou seu olhar às injustiças do mundo, tendo fotografado a mineração e levantes sociais, como a Revolução dos Cravos, em Portugal, em inconfundíveis imagens em preto e branco que aliavam beleza e compromisso.

A consagração veio veio com suas fotografias da tentativa de assassinato do presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan em 1981, que presenciou enquanto cobria um evento presidencial em um hotel — Salgado tirou 76 fotos em 60 segundos. No final daquela década, ganhou novo impulso com uma série de imagens em preto e branco de Serra Pelada, local de mineração de ouro na Amazônia que atraiu 50 mil trabalhadores que acalentavam o sonho de ficar ricos. Seus registros davam a impressão de que o garimpo era um formigueiro humano. Ele também ficou conhecido como um dos principais defensores da preservação ambiental com suas fotografias da Amazônia. Em 1996, suas lentes testemunharam uma das maiores ocupações na história do MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra. O resultado foi o celebrado livro “Terra”, editado pela Companhia das Letras.

 

Trecho de matéria publicada na Folha de S. Paulo (23/5/2025).